Amigo de motorista de Porsche segue entubado na UTI em coma induzido após acidente: quatro costelas quebradas e baço retirado
Marcus Vinicius Machado Rocha, amigo do motorista do Porsche que causou um acidente com morte no último domingo (31) na Zona Leste de São Paulo, continuava entubado e internado em coma induzido na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital São Luiz Anália. A informação foi confirmada neste sexta-feira (5) ao g1 por pessoas que têm contato com a família do rapaz.
O estudante de 22 anos estava sentado no banco do carona do carro de luxo que era conduzido pelo empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, de 24 anos, e bateu na traseira do Renault Sandero do motorista por aplicativo Ornaldo da Silva Viana, de 52 anos, que morreu num hospital. Segundo testemunhas, as três pessoas usavam cintos de segurança.
Marcus quebrou quatro costelas e precisou retirar o baço numa cirurgia. Seu estado de saúde ainda apresenta riscos. Por esse motivo não há previsão de alta. Ele ainda não foi ouvido pela polícia sobre o caso. Fernando teria tido um corte na boca, mas não foi para nenhum hospital.
Câmeras de segurança gravaram a batida na Avenida Salim Farah Maluf, no Tatuapé (veja vídeo abaixo). A Polícia Civil indiciou Fernando por homicídio por dolo eventual, quando se assume o risco de matar, lesão corporal e fuga do local do acidente. O empresário responde aos crimes em liberdade.
Empresário tomou 'alguns drinks'
Segundo a namorada de Marcus contou no 30º Distrito Policial (DP), Tatuapé, eles, Fernando e sua namorada beberam "alguns drinks" num restaurante. Depois foram no Porsche e em outro carro para uma casa de pôquer com "open bar" (comida e bebida à vontade). Outras câmeras de segurança gravaram a chegada e saída do grupo do estabelecimento.
Em seguida, Fernando discutiu com a sua namorada, que não queria deixá-lo dirigir porque ele estava "alterado". Marcus se ofereceu para conduzir o Porsche do amigo, que recusou. Então foi de carona com o empresário no veículo enquanto suas namoradas seguiram atrás em outro automóvel.
Durante o trajeto, a namorada de Marcus contou que Fernando "acelerou" o carro de luxo e quando ligou para seu namorado, ele contou que o Porsche se envolveu num acidente. As namoradas dos rapazes foram ao local.
Outras testemunhas contaram à investigação que Fernando dirigia em alta velocidade, tinha sinais de embriaguez, voz pastosa e estava cambaleando. O limite de velocidade para a via é de 50 km/h.
Liberação pela PM e fuga
A Polícia Militar (PM), que atendeu a ocorrência, acabou liberando o motorista do Porsche para sair do local do acidente sem fazer o teste do bafômetro nele. O equipamento poderia indicar se o empresário havia bebido álcool enquanto dirigia, o que é crime.
Os policiais militares alegaram que a mãe de Fernando, Daniela Cristina de Medeiros Andrade, também foi ao local do acidente e disse que levaria o filho para tratar de um ferimento num hospital. Mas quando os agentes da PM foram depois a unidade médica, não encontraram nenhum dos dois.
A Corregedoria da PM apura se se os policiais militares que liberaram Fernando sem fazer o teste do bafômetro erraram no procedimento. A Ouvidoria da Polícia pediu as imagens das das câmeras corporais dos agentes que atenderam a ocorrência para serem analisadas.
Para a Polícia Civil o motorista do Porsche havia fugido. Depois de 38 horas, ele se apresentou espontaneamente na delegacia que investiga o caso e negou que tivesse bebido ou fugido. Afirmou, porém, que estava "um pouco acimado limite" de velocidade para a avenida. Mas não soube informar a velocidade que estava no momento.
Perícia e investigação
A Polícia Técnico-Científica vai analisar as imagens para determinar qual era a velocidade do Porsche no momento da batida com o Sandero. O laudo será feito pelo Instituto de Criminalística (IC).
A Polícia Civil chegou a pedir a Justiça a prisão temporária do motorista do Porsche, mas a solicitação foi negada. A juíza alegou que "clamor público" não era motivo para prender alguém. A investigação avalia a possibilidade de vir a fazer um novo pedido de prisão, dessa vez preventiva, após concluir o inquérito do caso.
A investigação também apura se Daniela cometeu crime de fraude processual pelo fato de a mãe de Fernando, segundo a investigação, ter impedido o motorista do Porsche de fazer teste do bafômetro e ter supostamente mentido ao dizer que o levaria a um hospital, mas não o fez.
CNH foi recuperada
Fernando havia recuperado sua Carteira Nacional de Habilitação (CNH) 12 dias antes do acidente, segundo a Polícia Civil de São Paulo.
O empresário teve a CNH suspensa em 5 de outubro de 2023 e ficou 152 dias proibido de dirigir após estourar o limite de multas permitidos. Entre as infrações cometidas por Fernando para ter a "suspensão do direito de dirigir" por pouco mais de cinco meses está ao menos uma multa por excesso de velocidade.
Por causa da suspensão da CNH, Fernando foi obrigado a passar por uma "reciclagem para infratores". O jovem de 24 anos fez o curso entre 7 e 16 de novembro de 2023. Em 19 de março de 2024, ele recuperou a CNH e o direito de voltar a dirigir.
Defesa cita 'fatalidade' e família de morto alega 'injustiça'
A defesa de Fernando divulgou nota à imprensa informando que seu cliente não bebeu e que o acidente foi uma "fatalidade".
Ele é gerente de uma das empresas da família e ganha R$ 15 mil de salário. Há cinco anos, foi aprovado em uma universidade privada da capital paulista, o Mackenzie, onde cursou engenharia civil por algum tempo. Segundo a instituição de ensino, ele não está matriculado lá desde 2021.
"Um sentimento de injustiça gigantesco dentro de mim", escreveu nesta segunda em seu Instagram, Luam Silva, filho de Ornaldo. O motorista por aplicativo deixou mais dois filhos e e esposa.
Por Kleber Tomaz, g1 SP — São Paulo