Irmãos Brazão monitoraram outros políticos do PSOL além de Marielle, diz Lessa
Na delação homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, afirmou que o plano de espionar o PSOL não mirava apenas a vereadora, mas também outros políticos do partido.
Durante o depoimento à PF, Lessa afirmou que os irmãos Brazão infiltraram Laerte Silva de Lima e a mulher, Erileide Barbosa da Rocha, no PSOL. O casal era um “braço armado” da milícia de Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio.
“O Domingos [Brazão], por exemplo, não tem papas na língua. Ele simplesmente fala que... ele colocou, digamos assim, um espião no PSOL, no partido da Marielle. E o nome desse espião seria Laerte, que é uma pessoa do Rio das Pedras, que depois eu soube se tratar de um miliciano. Uma pessoa responsável por várias atividades da milicia lá. E essa pessoa trazia informações para os irmãos com relação ao PSOL em si”, declarou Ronnie.
“Não somente em relação à Marielle. Ele falava sempre do Marcelo Freixo. Falava do Renato Cinco. Tarcísio Motta... Falava dessa pessoa. E demonstrava, assim, um interesse diferenciado por essas pessoas, pelas pessoas do PSOL.”
Ouvido pelo Fantástico, Freixo declarou que Ronnie Lessa “é um psicopata”.
“Ronnie Lessa é um psicopata. É uma pessoa sem qualquer respeito à vida. Quantas pessoas ele matou antes da Marielle? A psicopatia dessa pessoa, bem como sua covardia, se somam a um Rio de Janeiro onde crime, polícia e política não se separam.”
O Fantástico deste domingo (26) trouxe com exclusividade detalhes da delação de Ronnie Lessa. Foi a 1ª vez que Lessa admitiu ter praticado o crime que resultou na morte de Marielle e Gomes. Em 2 horas de depoimento gravado, Lessa fala quem são os mandantes, o que receberia pelo crime e o destino da arma usada em 14 de março de 2018.
A filiação de Laerte e Erileide aconteceu em abril de 2017, quando Lessa começou a fazer buscas na internet pelo nome de Marcelo Freixo — na época, uma das figuras mais atuantes do PSOL. Em 2019, Lessa admitiu em depoimento ao Ministério Público do Rio (MPRJ) ter pesquisado na internet informações sobre o então deputado federal.
O PSOL declarou que o casal foi expulso do partido em dezembro de 2020. “Sua real atuação já era de conhecimento do partido desde meados de 2019, mas não foram tomadas iniciativas por estarem sob investigação. Os fatos mostram que as milícias não possuem limites em sua atuação criminosa e contam, por muitas vezes, com o apoio de agentes do Estado, quando eles próprios não o são”, disse, em nota.
“O PSOL segue na luta por justiça até que todos os envolvidos no assassinato de Marielle e Anderson sejam julgados e condenados.”
Sobrevalorização
Também na delação, Ronnie Lessa disse que Laerte pode ter "enfeitado o pavão" e levado os irmãos a dimensionar mal as ações políticas da parlamentar.
“Nesse momento, ponderou-se a possibilidade de que este poderia ter sobrevalorizado ou, até mesmo, inventado informações para prestar contas de sua atuação como infiltrado", diz o relatório da PF.
O relatório indica que a criação dessa animosidade explicaria, por exemplo, a reação fora do comum que Chiquinho teve contra um assessor de Marielle depois que a vereadora se opôs a um projeto de lei dele na Câmara do Rio.
O projeto era o 174 de maio de 2017, sobre a flexibilização de regras de regularização fundiária na Zona Oeste. Ele mirava especificamente áreas de interesse da família Brazão. Na época, toda a bancada do PSOL votou contra o projeto, além de 2 vereadores de outros partidos.
O assessor de Marielle relatou à polícia que depois da votação Chiquinho mostrou uma irritação fora do comum, que nunca tinha sido vista por ele e que teria cobrado apoios que já teria dado à Marielle em outros projetos.
A lei, mesmo aprovada, depois foi vetada pelo então prefeito Marcelo Crivella, e depois julgada inconstitucional pelo Tribunal de Justiça.
Quem é Laerte
Miliciano de Rio das Pedras, Laerte foi preso em 2019, no âmbito da Operação Intocáveis, que surgiu como um desdobramento das investigações do caso Marielle. Em 2020, ele teve direito à liberdade condicional. Mas, no final de 2023, voltou a ser preso em uma ação do MP contra a milícia de Rio das Pedras.
Segundo as investigações, Laerte era um dos principais responsáveis pelo recolhimento e repasse das taxas pagas pelos comerciantes e moradores da região.
Ele também atuava no ramo de agiotagem (empréstimo de dinheiro a juros extorsivos), fundamental para os negócios da organização criminosa.
A denúncia do Ministério Público afirma que um endereço em nome de Laerte, na Estrada de Jacarepaguá, nº 3145, era considerado um "escritório" da organização.
por g1